A frase de Dilma, no debate Folha-Uol, fez a oposição subir nos tamancos (pela décima oitava vez só nesta sexta-feira) e voltar com a história de que Lula só conseguiu se eleger em 2002 depois de redigir a tal Carta aos Brasileiros. São duas coisas, a frase de Dilma e a Carta aos Brasileiros. Vamos, portanto, a uma coisa de cada vez:
É verdade que o PT fez oposição ao Plano Real, quando foi criado, no governo Itamar Franco. Oposição contínua e sistemática, como o próprio Lula admitiu outro dia. E não é tão difícil assim entender a razão. Há grande diferença entre a oposição que o PT fazia ao Plano Real em 1994 e a que o PSDB faz hoje. Em 94, embora a inflação tivesse sido controlada e o Brasil desse sinais sólidos de que caminhava em diração à estabilidade econômica, o histórico de planos econômicos mal sucedidos justificava a desconfiança. Justificava até mesmo o discurso oportunista que tentava levar o eleitor a desconfiar que o Real poderia não dar certo só porque não tinha sido realizado por mão petista. O discurso não deu resultado porque as pessoas simplesmente queriam que o Plano Real funcionasse, como funcionou. Em 2002, no entanto, Fernando Henrique não conseguiu eleger seu sucessor, mesmo com a estabilidade que o Brasil alcançou e a respeitabilidade de sua equipe econômica. Os escândalos ligados à compra de votos para aprovar a reeleição, o apagão energético e os problemas no câmbio ao final do governo podem até ter contribuído um pouquinho para a derrota de Serra. Mas não foram determinantes. Lula foi eleito presidente porque era o cara da vez. Foi um processo de amadurecimento. Era o filho do povo, que já havia feito uma tentativa mal sucedida de eleger um político novo dez anos antes. E aí vem a questão da Carta aos Brasileiros. Em nenhum momento, na campanha de 2002, Lula esteve ameaçado de não se eleger. É falso dizer que só se elegeu depois de apresentar a tal carta, redigida para acalmar o mercado financeiro, cuja desconfiança do futuro governo petista elevou o dólar além dos R$ 4,00 e a inflação para quase dois dígitos. É aí que entra a afirmação de Dilma, de que "aprovamos o Plano Real, levamos à frente e o utilizamos de forma adequada". Verdade absoluta. Tanto que na campanha de 2002 Lula não levantou uma só vírgula contra o Real. Eleito, manteve suas bases e soube tirar proveito da situação encontrada. Poderia dar outra roupagem como trocar o nome da moeda. Mas certamente seria considerada atitude indigna e recalcada.
A situação do PSDB hoje é diferente da que o PT enfrentou. Os tucanos tem que lutar contra oito anos de um governo bem sucedido, que cumpriu todas as promessas com muita sobra. E simplesmente não tem nada melhor a oferecer. Sem contar que, na cabeça do povo, eleger Dilma significa dar continuidade ao governo que considera seu.
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